Sobrevivente

Em setembro do ano passado larguei o trabalho com a promessa de um ano calmo, cheio de compromissos e aprendizados, mas calmo. Ano que investiria na minha educação, e faria meu tão desejado mestrado. Esperei muitos anos pra conseguir realizar esse sonho e achei que era o tempo perfeito. Depois de realizar o sonho de me casar e me estabilizar, porque não? 🙂

Living the dream! ????????????

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Os primeiros meses foram maravilhosos, cheios de tempo pra estudar, fiz novos amigos na universidade que finalmente não me tratavam como uma colega de trabalho ou conhecida por tabela. Fiz o meu círculo de pessoas que saiam comigo e gostavam de mim sem nenhum interesse ou obrigação. Fiz uma melhor amiga do outro lado do oceano que me vê sempre que pode, que se importa comigo como meus melhores amigos do outro lado do oceano.  

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Como a vida é uma bandida maldita, tudo começou a desmoronar. Como uma fila de dominós que me encaravam ao cair, eu não consegui fazer nada pra impedir os desastres que aconteceram. São tantos que não da nem pra enumerar.

Considerando o stress e dificuldade que é pra fazer um mestrado em ciência aqui em Londres, me sinto uma super heroína só por ter entregue e finalizado tudo, em meio à todos os problemas que vivi. Todos os meus colegas de classe se dedicaram como se estivessem trabalhando para uma startup sem horário pra começar, ou terminar.

Enquanto isso, eu estava deitada na cama da Tina, me perguntando quando tudo isso ia parar. Quando que eu ia ter uma trégua.

Eu explico, ao terminar meu casamento, fiquei sem ter pra onde ir. Dormi por alguns dias na biblioteca da universidade, sem rumo, com medo de ter que jogar tudo o que havia lutado pela janela, porque não podia trabalhar enquanto estivesse fazendo o mestrado. Não da tempo, não rola fácil e não é permitido.

Passei por seis meses horríveis, dependendo de ajuda dos outros. Morei em casas de amigos, recebi ajuda emocional dessas mesmas pessoas, e muitas vezes eles me arrastaram pra fora de casa pra me divertir e tentar relaxar enquanto meu mundo desmoronava.

Posso encher a boca para chamar essas pessoas que me ajudaram de amigos de verdade, pois me ofereceram o apoio que eu precisava sem pedir nada em troca. Estiveram lá, me tiraram da biblioteca, me fizeram sair da cama pra comer algo, me convenceram de que eu podia terminar o que havia começado. Me mostraram que eu posso ser invencível se eu quiser.

Em 2015 eu perdi meu relacionamento, minha casa, amigos que pensei que tinha, minhas certezas e meus planos. Tentei colocar toda a minha vida em três malas e empurrei estas malas por todos os cantos de Londres. Muitas pessoas me perguntam “E agora, Alê? O que vc vai fazer?”.

A resposta é simples, viver, afinal sobrevivi desde maio. E se este ano não me derrubou, nada mais conseguirá.

<3 Obrigada todos os amigos que me ajudaram por mensagens no whatsapp, visitando Londres e me encontrando, emails enormes e ligações no FaceTime. Sem vocês seria difícil continuar. <3

Acabei essa tese, finalmente!!! ???? | It’s officially over. #masters #msc #ucl

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Readaptando

Durante um relacionamento longo e sério como um casamento, a gente muda a maneira como vive diariamente, sem perceber.

Não vi as mudanças acontecerem, não percebi as necessidades e costumes que criei com o meu ex.

Fazem três meses que saí de casa, porém estava dividindo o quarto com um amiga de faculdade até alguns dias atrás. Jamais imaginei que ter o meu quarto fosse me tirar o sono.

Depois de mais de seis anos dormindo e acordando com companhia, sem televisão no quarto e com a rotina da manhã já automática, descobri que não sei mais dormir sozinha.

São quatro da manhã, estou exausta, mas deito na cama e rolo para os lados procurando conforto. Não encontro.

Ligo algo no Netflix que acho desinteressante, acabou assistindo aquele documentário chatérrimo e ruim pra dedéu inteiro. Tento trabalhar na minha tese pra não desperdiçar tempo, o foco se recusa a sentar e acompanhar essa insônia.

Dormir sempre foi um dos meus passatempos favoritos, gosto de enrolar na cama, ficar afofadinha e quentinha, mas essa semana me ensinou que, de agora em diante, esta será a parte mais temida do meu dia.

A readaptação após o divórcio dói. Principalmente quando percebemos o quão essenciais são os pequenos gestos diários quando vivemos um grande amor.

Enquanto encaro o teto do meu novo quarto, repito pra mim mesma que vai passar. Eu sei que vai.