Invisível

Ficar invisível é considerado um poder no mundo dos super heróis. Pra mim, ser invisível é o pesadelo que vivi nos últimos anos.

Não existe nada mais doloroso do que tentar ser enxergada e interagir com alguém que se vê frequentemente, que é parte da sua família ou círculo de amigos e ser completamente ignorada. É a maneira mais dolorida de dizer não para alguém.

O problema de se tornar invisível para uma – ou um grupo de pessoas- e aceitar que esse é o melhor relacionamento possível que alcançará, é que a gente se acostuma. Acaba aceitando ficar de lado, varre as nossas prioridades pra baixo do tapete e toda vez que nos sentimos invisíveis a nossa auto-estima diminui um pouco.

O relacionamento com essas pessoas foi uma via de uma mão, onde eu fiz de tudo pra que funcionasse e que algum tipo de amizade, mesmo que rasa, crescesse. Dei tudo de mim enquanto pude, e conforme os anos passaram o pouco de energia que sobrou usei para me manter viva, mas chegou um momento que parei de fazer por essas pessoas.

Fiquei ali, imóvel, geralmente em silêncio. Me sentindo pequena e sozinha.

 

Esse foi o meu erro, não lutei, fiquei acostumada com essa situação horrorosa. Não saí desse ciclo, nem tive energia pra agir. Só me abri com poucas pessoas, que obviamente me disseram pra “ignorar gente assim”.

Não consegui ignorar, então engoli seco anos à fio, até que um dia, fui empurrada pra fora da minha zona de conforto. E quando enxerguei a bolha que estava presa, não gostei do futuro que vi pra mim.

E esse foi o dia que removi a minha capa de invisibilidade. Quem sabe consiga olhar pra esse super poder com bons olhos, hoje não.
aufasshole

 

Readaptando

Durante um relacionamento longo e sério como um casamento, a gente muda a maneira como vive diariamente, sem perceber.

Não vi as mudanças acontecerem, não percebi as necessidades e costumes que criei com o meu ex.

Fazem três meses que saí de casa, porém estava dividindo o quarto com um amiga de faculdade até alguns dias atrás. Jamais imaginei que ter o meu quarto fosse me tirar o sono.

Depois de mais de seis anos dormindo e acordando com companhia, sem televisão no quarto e com a rotina da manhã já automática, descobri que não sei mais dormir sozinha.

São quatro da manhã, estou exausta, mas deito na cama e rolo para os lados procurando conforto. Não encontro.

Ligo algo no Netflix que acho desinteressante, acabou assistindo aquele documentário chatérrimo e ruim pra dedéu inteiro. Tento trabalhar na minha tese pra não desperdiçar tempo, o foco se recusa a sentar e acompanhar essa insônia.

Dormir sempre foi um dos meus passatempos favoritos, gosto de enrolar na cama, ficar afofadinha e quentinha, mas essa semana me ensinou que, de agora em diante, esta será a parte mais temida do meu dia.

A readaptação após o divórcio dói. Principalmente quando percebemos o quão essenciais são os pequenos gestos diários quando vivemos um grande amor.

Enquanto encaro o teto do meu novo quarto, repito pra mim mesma que vai passar. Eu sei que vai.